Diante da notícia de que eu terei mais um filho, muita gente tem perguntado se será menino ou menina. Bem, está cedo para sabermos, e tenho respondido com uma brincadeira com fundo de verdade: deixa ele crescer, que ele decide.
Algumas pessoas gostam da respostas, outras aplaudem, outras somente riem. Mas, o que me chamou a atenção é que houve quem questionasse: "quero saber se você vai dar essa abertura toda, mesmo, se ele chegar dizendo que é gay ou ela dizendo que é lésbica". E não foi só uma pessoa. Preciso dizer que é uma proposição besta? Talvez, por ignorância, talvez, por preconceito, mesmo, mas, é, no mínimo, besta.
Pois, aí vai. Fui criado num ambiente em que preconceitos com relação a orientação sexual não tem vez. Sério, mesmo. De tal modo que sempre tive toda liberdade do mundo para assumir para mim e para o mundo a minha orientação sexual. E isso nunca me fez homossexual, bissexual, transgênero, nem nada diferente do que eu sou. Pelo contrário. Sou um heterossexual desencanado, seguro de mim e de minha orientação sexual. Mas, sei que posso ser quem eu sou, independente de qualquer coisa, e isso me faz muito feliz!
Isso me fez pensar em outra coisa: se eu tenho e sempre tive a liberdade de ser quem sou, e poder assumir publicamente, com o apoio de minha família, e se isso me faz feliz, mesmo que não me mude em nada... bem, seguramente, uma família que tem a postura contrária tampouco muda a orientação sexual de seus filhos. Não evitam que eles se interessem por pessoas do mesmo gênero, por exemplo. Nem afetiva nem sexualmente! Mas, rouba-lhes a alegria de serem quem são. Rouba-lhes o orgulho de ter uma família que lhes ama e apoia independentemente do rumo que tomarem quanto à questão de gênero. Pior: rouba-lhes a coragem de viverem como lhes manda a sua natureza. É uma vida muito infeliz, disso não tenho dúvida.
Todo esse pensamento ainda me levou a uma outra conclusão: Famílias que não se importam com a orientação sexual sabem da orientação dos seus filhos. Famílias que adotam qualquer comportamento homofóbico, qualquer atitude preconceituosa tendem a nunca saberem (e, por mais que seus filhos pareçam "Machos" e suas fílhas "Mulheres femininas", jamais poderão ter certeza, em seus íntimos). Quando os filhos de famílias homofóbicas, por estímulos externos, resolvem ser quem são, encaram resistência e decepção em suas famílias, que, muitas vezes, terminam privando os filhos (e a si) até mesmo do convívio. Aí, o segredo fica super guardado. Temos visto bastante gente assumindo sua orientação sexual e de identidade de gênero. Mas, devido à intensa onda de agressividade anti-LGBT, não me espanta que o armário ainda esteja muito apertado.
Você, que bateria no filho ou expulsaria ele de casa, se ele fosse gay, sabe lá se ele já não é?
Nunca saberá!
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Pablo de Araújo Gomes