terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sabores

     "Doce". Há palavra mais doce, quando queremos qualificar algo agradável ou alguém gentil? Decerto que não. Está na boca do povo, é preferência nacional. Já ao desagrado, o chamamos de azedo, de salgado ou, pior, de amargo.
     Entre estas belas figuras de linguagem que enriquecem o nosso idioma, oculta-se um engano comum. Nem tudo que é doce é tão agradável, como nem tudo que diz respeito aos demais sabores causa desgosto. De fato, os doces são os preferidos de onze entre dez crianças, regra de rarississíssimas exceções. E é o instinto do Homem falando. Na natureza, onde o alimento era escasso, uma fonte tão rica de energia (os açúcares) não poderia jamais ser desprezada, e nosso organismo aprendeu isso muito bem. Aliás, o mesmo vale para gorduras e demais alimentos calóricos, o que explica porque tudo o que é gostoso faz mal ou engorda, como diz o velho ditado! Mas isso é outro assunto.
     No entanto, os doces nem sempre gozam da mesma popularidade entre os mais crescidinhos. É só reparar nas festinhas de suas crianças: enquanto a criançada se esbanja na mesa de doces (ou fica babando, enquanto o consumo ainda não foi liberado), os convidados adultos não tiram os olhos das coxinhas, os bolinhos de chuva e os demais salgados. Se fôssemos justos, então, um preço salgado talvez devesse ser o mais procurado pelos adultos, não o mais caro. Por outro lado, justiça seja feita, quem gostaria de ser definido como "sem sal"? Uma pessoa sem graça, sem gosto, que nem cheira nem fede, é o que quer dizer. Quer dizer, cheirar e feder já é invadir o reino de outros sentidos; atenhamo-nos ao paladar! Mas, afinal, pelo menos, reconhece-se algum valor no sal. Se bem que, pensando bem, sal, soldo, de onde vem soldado ou salário, são expressões diretamente relacionadas, no passado, com a utilização deste artigo - o sal - para a remuneração dos militares. Isso, quando a extração do sal era algo considerado árduo, poucos o conseguiam e, por conseguinte, este artigo ainda não havia deflacionado tanto. Talvez, naqueles tempos, "sem sal" fosse alguém liso. Quero dizer, liso, no sentido de duro. Ai, ai, lá vou eu, invadindo novamente o espaço de outros sentidos! Perdoem-me por esta breve confusão cinestésica! O que quero dizer é que, naqueles tempos, se havia esta expressão "sem sal", certamente designava alguém de recursos limitados, sem renda. Pobre, em outras palavras. Talvez, então - e isto é apenas uma suposição, sem nenhuma base científica -, ser "sem sal" tenha a ver com esta origem em que sê-lo era sem graça para quem gostaria de unir-se maritalmente com alguém mais "bem dotado". Sabe lá!
     E o amargor? Todos pensam no jiló, ou associam o amargo a este impopular vegetal que, pessoalmente, nunca tive o prazer ou desprazer de experimentar. Sobre este alimento, nada a declarar, portanto. Mas, que tal um cafezinho? Ou uma cervejinha? E o que você pensa do chocolate? Calma, tudo bem. O chocolate, no mais das vezes, é adoçado, é verdade. E o café, pela maioria das pessoas, também. Mas, e a cerveja? Principalmente a pilsen, que de doce não tem nada! E vou além! O chocolate já era sucesso absoluto em solos das américas, antes mesmo deste imenso continente ser conhecido por este nome. E não era adoçado, como, sem perder a popularidade, permaneceu por um tempo. E, tanto ele como o café ainda têm consumidores que adoçam pouco ou sequer adoçam. Você se surpreenderia, se passasse o dia em algumas boas cafeterias!
     O azedo, coitado! Um fato que azeda uma relação amorosa pode terminar levando um namoro ou casamento pelo ralo. Ou para o lixo, sem direito a reciclagem! Isso, porque o processo de fermentação que estraga os alimentos os deixa azedos, azeda-os. Entretanto, o azedume não tem que ser ruim. Que o digam os fãs da acerola, do limão, do morango, da coalhada, do abacaxi, das uvas roxas, etc e tal, só para ficar em exemplos. E, se aliado ao doce - olha ele de novo -, o azedo é ma ótima pedida! Na verdade, o simples inalar do cheiro de um alimento azedo conhecido tende a acelerar a salivação, mais do que de qualquer alimento seu predileto! Viva o azedo!
     Enfim, se mais ou se menos, não importa, realmente. O fato é que os sabores são magníficos, uma verdadeira delícia que precisa ser explorada. E a combinação dos sabores é como a combinação dos instrumentos de uma orquestra. Sei, sei, estou invadindo, novamente o terreno de outros sentidos. Mas que se dane! Talvez, mais que a predominância de um sabor sobre outro (o que é natural, e até positivo), o problema é a medida de cada sabor. O excesso ou a falta de sabor, aí, sim, é onde mora o problema! Sal demais numa refeição pode deixá-la intragável! Há um exame médico que usa uma grande dose de açúcares na forma líquida, cujo gosto termina por dar a muitos ânsia de vômito e outras sensações desagradáveis. Algo azedo demais, ou amargo demais, nada vai agradar! Isso, porque, além dos sabores, não falei de sensações complementares, como a refrescância da menta ou a picância da pimenta... Tudo demais pode ser ruim, mas na medida certa, é banquete garantido!

Pablo de Araújo Gomes, 13 de Janeiro de 2010

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Silvestre Pessoa

"Era um cidadão comum como esses que se vê na rua
Falava de negócios, ria, via show de mulher nua
Vivia o dia e não o sol, a noite e não a lua"
(Belchior)

     Silvestre é um homem muito urbano. Não que ele seja gentil, simpático ou sociável, como se costuma querer dizer com este adjetivo. Muito pelo contrário, ele é urbano como são as grandes aglomerações urbanas de hoje em dia: frio, frenético e incansável.
     Sua rotina de trabalho inclui os três turnos. Às vezes, os quatro, quando ganha um extra com algum bico na madrugada. Mas não reclama. Quer dizer, reclamar não reclama, mesmo. Mas ninguém mais turrão e mal humorado jamais foi visto em qualquer um de seus ofícios. Não cumprimenta ninguém,

domingo, 17 de janeiro de 2010

Ô, Glória!

     A moça se chamava Glória. Irmã Glória, é como era conhecida em sua igreja. Evangélica, recatada, certinha como poucas. E linda! Lindamente, linda, dos pés à cabeça. Não é que fosse vaidosa, porque ela não era, mesmo. Mas era de uma beleza exuberante, na simplicidade de suas eternas saias longas, seu cabelo escuro que, de tão escorrido, não se segurava preso. Fazia bem de estar sempre na igreja, porque, num pagode ou num baile fanque, ela seria o pecado em pessoa!
     E, com seu sorriso brilhante, cativava a todos, principalmente aos rapazes, que eram evangélicos, não santos. Aliás, a igreja não os aceitaria, se fossem santos, já que não acreditam em santos. Mas, como dizíamos, ela cativava a todos, principalmente aos rapazes, que pecavam em pensamento, e não o podiam negar. De certo modo, desistiram de negar. Iam mais cedo para a igreja, na esperança de conseguir um dedinho de prosa com a bela moça. Quando ela também chegava mais cedo, era amém pra todo o lado. Quem conseguia sua atenção só pensava em aleluia.
     E, quando ela passava, com seu rebolado feminino inevitável, sua natureza de bela mulher falava alto. E a natureza dos rapazes, que não conseguiam evitar um olhar indiscreto, também. Ver aquela beleza desfilar era uma bênção! Ô, glória!
     Ela, um dia, ouviu os rapazes em tal exclamação. Pensou que a chamassem. Bem, falavam dela, mas não necessariamente o seu nome. Mas não assumiram. Deram um sorriso amarelo, e disseram que falavam de outra coisa. Mentir é pecado, pensaram, mas orariam pelo perdão. Não podiam era assumir a razão de sua exclamação! Certa vez, ela até deu uma bola para um abençoado. Acho que o invejaram tanto, que não teve glória que subsistisse. E Glória o pôs de lado, como uma criança que enjoa de um brinquedo. Ele apelava: "ô, Glória, me deixa não!"; e os rapazes, vendo a reação da moça, comemoravam: "Ô, glória! Ela deixou!"
     Há quem diga que Glória se casou. Há quem diga que não. O fato é que nunca mais se ouviu falar em Glória. Mas, a cada exclamação, os rapazes ainda pecam em pensamento. Ô, Glória!

Pablo de Araújo Gomes, 16 de Janeiro de 2010

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Altruísmo Cego e o Consciente

     Caridade.
     A Idade Média e a Igreja Católica (conceitos que quase se confundiam) eternizaram esta palavra como uma das mais importantes e seguras portas para a salvação de sua alma. E, falando em espírito, muitos dos espiritualismos, inclusive sua mais completa e ilustre vertente (nada contra as outras correntes), o Espiritismo (de Allan Kardec) também valorizam a caridade como uma parte importante do caminho rumo à iluminação espiritual.
     Hão de me perdoar os certinhos e os moralistas, mas acho que supervalorizam a caridade. Não, não sou o anti-Cristo! Não me venham crucificar, por favor! Eu disse que a caridade é supervalorizada, e é mesmo. Não disse que é ruim. Eu também a acho importante, e a pratico, se acaso vocês duvidam que eu a ache positiva. Isso, apesar de crer que muitos fazem um pequeno gesto de caridade, a boa ação do dia, apenas para ficar de consciência tranquila, e se eximir do dever de fazer algo realmente significativo que lhes dê mais trabalho. Não, não resistam às idéias que lhes trago. Leiam-me, e entenderão o que lhes digo.

     Permitam-me fazer algumas citações: o Rei do Baião, grande mestre Gonzagão, já dizia "A esmola mata de vergonha, ou vicia o cidadão". Dispensaria comentários, só de se bem observar nas esquinas e semáforos de sua cidade. Mas, como reforço, lembro-lhes de Antoine de Saint-Exupéry, que fala, em uma obra sua de cujo título não consigo me lembrar, daqueles mendigos que expõem as suas chagas, para demonstrar que não têm como trabalhar, e que precisam de uma ajuda para se curar; mendigos esses que, no fim do dia, futucam suas feridas, e até lhes esfregam todo tipo de sujidade, para não perder sua fonte de renda.
     Enquanto isso, a sabedoria popular ensina que é melhor ensinar a pescar do que simplesmente dar o peixe. Sobre isso, permitam-me lembrar que os comunistas de última hora há muito dizem: "Dar esmola atrasa a revolução!". Sim, é verdade. Sob a ótica de quem espera que o miserável, não suportando a miséria, faça a revolução, dar-lhe esmolas o coloca em uma situação de conforto, na qual, ainda que na miséria, não se tem com o que se revoltar. Muito sábia colocação! Parando de se dar a esmola, o sopão, o peixe, o pão, o miserável sai da zona de conforto, de dependência, e vai atrás do trabalho, ou se organiza com seus iguais para virar o jogo através da revolução! Ingênuo, não? Também acho, mas devo admitir que é bonito! Porém, não creio, também, que, sem nada para comer, na mais completa miséria, se possa pensar em algo mais do que a própria sobrevivência, quando muito na das crias. Sim, o bicho-gente também é animal! Então, não podemos abandonar por completo a caridade, mas temos que ter cuidado com a esmola. Esmola não é caridade, é veneno! E nem sempre dar esmola é dar uns trocadinhos, há muitas maneiras de se cometer este crime social. Há muitas outras citações, algumas bastante interessantes, mas, assim, não escrevo hoje!
     Então, colocando as idéias esparsas em ordem, eu diria: é preciso eliminar a dependência, ensinando a pescar, não deixando, no entanto, que o aprendiz fique sem comer até o dia de sua "formatura" como pescador. Mas, tão logo aprenda, e tenha onde pescar (detalhe importante, como discorreremos), não se pode manter a ajuda, sob pena de provocar o vício da acomodação.
     Certo. Mas, ainda assim, subsiste uma dúvida: como ser solidário? Devemos esperar emergências, como estes terremotos no Haiti, ou  aquelas tsunamis de poucos anos atrás, na oceania? Por óbvio que devemos contribuir, e rápido, mas não. Não é a única maneira de agir. Há muito o que se fazer, por aqui, e já!
     Acontece que, como vimos, dar esmolas a  uma criança, no sinal, estimula que ela jamais tente, quando crescer, outra renda que lhe dê mais trabalho; comprar aqueles confeitinhos ou canetas, pior ainda, porque estimula a exploração infantil! Ou vocês realmente acreditam que aquela pobre criança (pobre, mesmo!) vai ver a cor do seu rico dinheirinho? Nem sonhem! Muito mais efetivo é procurar uma instituição séria, e acompanhar os trabalhos. Dar dinheiro à instituição? Pode ser, se você conhece e ela presta contas direitinho. Afinal, dinheiro também é necessário, e muito, para se manter funcionando. Mas, se você é bom com crianças, por que não passar o dia recreando crianças carentes? Ou uma tarde conversando com algum(a) senhor(a), num asilo, onde muitos são abandonados pela família e passam anos esquecidos, em sua infinita solidão. Ou, quem sabe, visitar um bom hospital do câncer e dar força a um paciente terminal, ou divertir uma criança; quem sabe abraçar um paciente com hanseníase (desde, claro, que esteja sendo tratado, sem risco de contaminação), após alguns minutos de boa conversação sobre frivolidades. Você não faz idéia da força que isso tem. Ou doar sangue, se sua saúde permite. E, se for doar algo a alguma família carente, que tal conversar com os membros desta família? Não são apenas receptáculos de sua boa-vontade: SÃO PESSOAS! Não posso lhes dizer que já fiz tudo isso, seria mentira. Mas já fiz alguns, e pretendo repetir a dose. Outros, faço-os com regularidade.
     Parece-lhes que já falamos tudo? Se sim, o seu equívoco é grande!
     Vamos imaginar uma situação hipotética: você acompanha uma boa instituição, que realiza a nobre obra de tirar crianças das ruas, e do risco iminente de caírem no mundo das drogas e/ou do crime. Ótimo! Isso jamais será pouco! E, jamais, será suficiente, também. É preciso que, ao crescer, e não mais poder ser atendida pela instituição, este novo adulto possa não ser apenas mais um miserável nas ruas. Aliás, esta cena é bastante comum, bem mais do que você pensa. "Nós até queríamos ajudá-lo mais, mas você já é bem grandinho. Te vira!", "Mas eu não tenho trabalho, nem onde morar...". Com sorte, a instituição terá ensinado o jovem a pescar, e, com sorte, tome-lhe a vara! Vá pescar por conta própria! "Mas este canal não tem peixe!", "Sinto muito, mas não podemos fazer nada por você". Infelizmente, na maioria dos casos, este jovem jamais teve uma formação semelhante à de uma criança da classe média. Às vezes, não passa nem longe disso. E, hoje, até para quem tem boa formação, tudo poderá ser bastante difícil.
     Bem, chega de pessimismo! Queremos solução. Com um pouco mais de dinheiro, uma poder-se-ia criar um projeto menos pontual, mais amplo, que reestruturasse a comunidade, orientasse os adultos a formarem cooperativas de acordo com a vocação econômica local, a se organizarem, a progredirem, que facilitasse o crédito para a realização deste investimento. Deste modo, aquelas crianças se sentiriam inspiradas a, na medida em que crescessem, seguir o exemplo dos pais, tios ou conhecidos. Não seria mais esmola, não seria mais somente ensinar a pescar, num rio sem peixe. Seria dar semente, terra e orientação, e dizer: plante, que, em se cuidando, fruto dá!
     Ah, você não tem esse dinheiro? Realmente, criar instituições como esta, com tal estrutura, depende de mais dinheiro do que para fundar uma ONG (Organização Não Governamental, entidade sem fins lucrativos que objetiva um bem social) qualquer. Pior, muitas empresas ou multimilionários têm acesso a idéias e projetos semelhantes, mas contentam-se em engavetar. Muito triste, não? Mas não tem que ser o fim do mundo, não! Por que as ONGs, e demais instituições que atendem um determinado município ou uma comunidade, não firmam parcerias para um trabalho mais coordenado e eficiente? Isso está ao alcance de muitas delas. É difícil? Claro! Realizar trabalho social é difícil, lidar com pessoas é difícil, e não deixam de fazê-lo, por isso.
     O Homem (raça humana) produz e extrai mais do que realmente necessita. E desperdiça (ou acumula, graças à lógica capitalista) grande parte de tal produção, inutilizando-a, enquanto grande parte da população humana, paradoxalmente, passa fome e toda sorte de privações, em pleno século XXI. A verdadeira solução para resolver este problema, ou pelo menos minimizá-lo, não é a caridade, como muitos pensam. Enquanto pensarmos nisso, não funcionará. A caridade é um paliativo, um assopro na ferida. A solução está na cooperação, no mutualismo. Mas isso é visto como coisa de comunista, de anarquista, ou de qualquer outra corrente filosófico-social que não recebe o devido crédito por culpa do preconceito. Sopra-nos, então, assoprar as feridas, na ilusão de que isso, por si só, vá fazer mais do que aliviar o incômodo da eterna chaga.

Pablo de Araújo Gomes, 15 de janeiro de 2010

domingo, 10 de janeiro de 2010

Anatomia Feminina

     Minhas amigas têm me perguntado de maneira reticente, há anos, a mesma velha e desgastada pergunta de sempre. Pois agora vou responder, e bem respondido, para que não me venham mais com esta pergunta. De qual parte da anatomia feminina eu gosto mais?
     Antes de mais nada, deixem-me esclarecer um equívoco comum. De que parte eu gosto mais, é uma coisa; o que me dá mais tesão, aí já é outra. O que me atrai mais, é uma coisa; o que me excita é outra. Não me venham taxar de hipócrita ou adjetivos afins, quando eu, então, responder ao tão realizado questionamento.

     Não seria exagero dizer que, em momentos passados, eu responderia algo que confundiria estas diferenciações. Imaturidade da juventude, posso-lhes assegurar. Mas, hoje, já vejo com clareza o que há a ser visto. Vamos de trás para frente. Não na anatomia, mas na ordem das questões. Quero dizer, vamos do que se espera ouvir, e, depois, à resposta mais apropriada para a minha verdadeira opinião.
     Anatomia? Normalmente, nesta pergunta, não se quer saber de anatomia, mas de sexo. De que mais gosto? É até difícil responder... Eu me considero até versátil. Não sou podólatra, mas acho lindos os pés de uma mulher. Dos macios e delicados, da moça urbana aos feridos e calejados de uma bailarina, compridos ou pequenos, todos podem ter seu charme.
     Pernas! Adoro as pernas! Desde aquele tornozelo bem torneado até quando acabam, nas proximidades de... Ah, já repararam que os joelhos costumam ser diferentes, de pessoa para pessoa? Pois é. Até isso pode ser belo numa mulher. Quem diria? Os joelhos, sim! E as coxas! Aí, sim! Uma coxa bem trabalhada, torneada, dura, carnuda, enfim, uma perna feminina. Hoje em dia, há muitas espécimes de pernas basicamente masculinas nas mulheres. Sou obrigado a admitir que esta nova corrente não me agrada muito. Mas pode ter o seu valor, há quem goste.
     Subamos mais um pouco. Barriga, vocês conhecem? O terror das moças, e mais ainda das não-moças que não se dão com seus anticoncepcionais. Mas, hormônios à parte, o maior vilão da barriga é a alimentação inadequada. E haja coca-cola! Pois bem, que seja. Quem vive a ditadura da barriguinha malhadinha é modelo, gente! Não estou dizendo que não é bom uma barriguinha sequinha; eu, mesmo, ADORO! Mas, há muito mais a ver numa barriguinha! Há aquelas completamente lisinhas, as que possuem uma discreta camada de pêlos finos e delicados, e até as que literalmente mostram o caminho para mais em baixo. Com delicadeza e um pouquinho de cuidado, a barriga pode ser um charme, mesmo que não seja um tanquinho. Ouviram, meninas? Cuidem-se, mas não se envergonhem de suas barrigas!
     Ah, estou até tentando ser compacto e claro, mas não dá! Vou, agora, apenas listar. As costas de uma mulher, os ombros (sim, os ombros! Se não fossem belos, não haveria tantos modelos a exibi-los), pescoço, a face, os cabelos, a maçã do rosto, orelhas, os seios da face, os seios (ah, um bom decote!), enfim... tanta coisa! A anatomia da mulher tem um encanto único! Ah, e, para não soar hipócrita, vou dar uma atenção à preferência nacional. As nádegas. Popularmente conhecidas como bunda, bundinha, bumbum. Que seja! É muito bom, não nego! Mulheres que o têm, sois felizardas, agraciadas por um bem genético que a malhação até pode ajudar a compor, mas não constrói completamente! Gosto, sim. Mas, começando a responder às perguntas, apesar de toda a mulher ser bela e especialmente atrativa, eu tenho que admitir. Há uma certa parte do corpo da mulher que, honestamente me parece muito injustiçada!
     Sim, muitos já podem ter compreendido. Outros, não, talvez. Mas, que a púbis, quer dizer... a genitália feminina, ela mesma, tem uma péssima fama, a de ser feia, isso é verdade. O que não me parece justo ou verdadeiro é que mereça esta fama, que em minha opinião se dá em parte devido a valores sócio-culturais, em outra à vulgar exploração de sua imagem pela indústria da pornografia. Sobra pouco para opiniões majoritariamente estéticas. É bela, sim. Em vários ângulos. Em algumas situações, chega a ser como uma flor delicada, o órgão (ou conjunto de órgãos) mais complexo e completo que Deus ou a mãe Natureza deu a uma de suas criaturas. Eu esperava escrever este trecho com mais poesia, como o tema bem merece. Talvez, o sono não me permita. Mas, afinal de contas, falávamos, ainda, apenas de atração, apenas de tesão. Então, de que, afinal, mais gosto na anatomia feminina?
     Entendam-me, quando digo que tudo o que até agora disse foi uma resposta às objeções à minha verdadeira resposta. A parte da anatomia feminina de que mais gosto são os olhos! Sim, claro, os olhos! Não me venham dizer que não é o que primeiro olho. Fico louco de incômodo quando uma mulher me atrai, e está usando óculos escuros! Fico querendo vê-los muito mais do que, como voyeur, me interessa ver decotes ou um lance. Gosto de admirá-los, mesmo quando a garota não me interessa. Os olhos são encantadores, são belos e verdadeiros. Olhos que sorriem, olhos distantes, olhos de ressaca, como os de Capitu... Olhos! É o que acho que há de mais belo e perfeito na mulher.
     Mas, a maior razão pela qual eu amo os olhos é que, com toda a divina perfeição que somente à mulher a criação atribuiu, há algo que supera, ultrapassa todos os demais caracteres que a formam. É a alma feminina! Este espírito de doçura, delicadeza e inteligência que nós, homens, nunca teremos, é o que acho mais belo na mulher! "Mas isto não é parte da anatomia feminina!" objetará alguém menos perspicaz. Desculpe-me, se eu falava de você, caro leitor, ninguém ficará sabendo se você não o disser. Não faz parte da anatomia, claro, concordo. Mas é lindo como os olhos são capazes de transparecer tudo, e denunciar o que há por trás daqueles seios siliconizados e daquele físico escultural malhado por horas a fio todo dia na academia. São os olhos que revelam quem você realmente é, e a sua beleza a cada dia mais me encanta. "As janelas da alma", segundo a sabedoria popular. É verdade!
     E isso, para ser mais sincero ainda, não é só o que acho de mais belo na mulher. Quando o animal dentro de mim não está gritando desesperado por sexo, e eu penso com mais clareza, também é um olhar o que mais me excita, o que mais me incita à imaginação, e não a exposição do objeto que se tornou o corpo da mulher, abundante, em toda a parte, da forma mais vulgar possível.
     Respondida a pergunta?


Pablo de Araújo Gomes, 10 de janeiro de 2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Inconstância

     Inconstância.
     Talvez, a vida não se devesse chamar "vida", mas inconstância. Todo o universo, na verdade, não apenas a vida. Não é uma mera questão de semântica, vocabulário, ou de mera definição. Vai além da questão vernacular. Nada é estático. Em uma canção do clássico musical  "Jeckyll & Hyde", na Broadway, o protagonista - quando sob controle de seu "eu" bonzinho - brada, uma verdade digna da atenção recebida: "The only thing constant is change".
     O ilustre cientista britânico, que ilumina os sonhos dos espectadores, na Broadway - e cuja segunda personalidade, antagônica, assombra os palcos desta região ícone do teatro - não está enganado. A única coisa que continua, sempre, é a mudança. Ainda assim, para não se contradizer, a mudança não é tão constante, tendo seu ritmo alterado de forma que nos parece aleatória..
     Há mais, sejamos mais concretos: o universo está em movimento de expansão, não vai parar. O Sol, aparentemente "quietinho" no seu lugar, está em constante movimento; além disso, esta mesma estrela que nos ilumina há alguns bilhões de anos e garante nossa existência, ainda vai terminar por devorar a terra, daqui a mais alguns bilhões de anos. As pedras, os diamantes, ingênuos símbolos de resistência e durabilidade, são perfeitamente moldáveis, nem que pelas forças da natureza, e, antes que o Sol ou algum buraco negro os devore, terão sido alterados, ou mesmo desintegrados por algum processo. Aliás, achamos, mesmo, que estas coisas vão demorar muito para acontecer, mas é porque a nossa existência material é tão ínfima, que não percebemos que não passamos de um piscar de olhos, na existência do universo.
     E é assim, entre tentativas e investidas, vitórias e derrotas, sucessos e fracassos, namoros, separações, caças e parcerias, que, a cada momento, a vida e o universo se renovam, inconstantes a ponto de nunca deixar de nos surpreender! É aquela pitada de um tempero desconhecido, que dá o sabor único que nunca se repetirá em outra receita. Saboreie-a!
     Bon Appétit!

Pablo de Araújo Gomes, 08 de janeiro de 2010

Tarcia Danielle

"Como eu poderia esquececer do poeta das estrelas? Daquele que diz amar o mundo a cada página? Amá-lo é como andar numa montanha russa em zigue-zague... Fazê-lo sorrir é mais gratificante que ver o dia amanhecer. Ficaria a eternidade entre as sombras que fazem as suas mãos ao tocar um OBJETO, nada mais... O que eu não daria para estar entre os seus mais profundos desejos? Para saber que um dia ele suspirou por mim"
Tarcia Danielle

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Um Novo Ano Novo Para Vocês!!

     Saudações, caros leitores!
     Priemeiramente, embora pouco relevante, tenho de revelar que um conto de Natal que deveria ser estar no ar desde ainda antes da véspera não pôde ser postado. Por alguma razão que não compreendi (e que agora é pouco relevante), simplesmente não consegui acessar o blogger e o Literatura Errante de computador algum aqui em Recife. Mas o bom, caros amigos, é que isto me serviu para descobrir que o nosso espaço literário já é lido até na Alemanha!!! Sim, já embarcamos na Europa, através da rede internacional! Tudo bem, não preciso dizer que foi uma grande amiga minha que leu, né? Mas já foi um novo passo do Literatura Errante no exterior, depois que eu soube que era lido por um velho amigo, nos Estados Unidos... Será que eu não deveria investir nas comunidades brasileiras no exterior??
     Bem, não posso esquecer de me lembrar. Por conta das circunstâncias que me cercaram nas últimas semanas, estou em débito com alguns de nossos leitores, como uma crônica que escreverei para o nosso amigo Isaac, e umas estórias não tão fictícias quanto a maioria das que costumo escrever. Uma delas, aliás, é uma das quais gosto de me lembrar, de tempos em tempos, e alguém nela presente já disse que queria saber como dela me lembro. É, então, uma das minhas promessas para este ano, então.

     Mas, enfim, após uma temporada distante da civilização, onde a telefonia - móvel ou fixa - não funciona como se poderia esperar, e a internet é quase uma lenda, finalmente estou de volta ao Recife! E retomarei, aos poucos, com novos poemas, crônicas, contos e tudo mais a que temos direito.
     E, como não poderia deixar de ser, inicio as crônicas deste ano com este dedinho de prosa, em prosa, só para desejar-lhes, a todos, todas as coisas boas, também, claro, mas, acima de tudo, MAIS UM NOVO ANO NOVO PARA TODOS!!!!!


Pablo de Araújo Gomes, 04 de janeiro de 2010